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Agora é sobre mim!



24 de Agosto de 2015
O frio chegou de vez hoje. Chegou de mansinho, nem pediu licença, e me tomou em seus braços. Também não lutei contra. Só me deixei carregar até a cama, procurando com pouco ânimo o calor perdido. Mas não encontrei o caminho para a fuga.

Pensei na minha mãe e no meu pai. Não costumo pensar neles, a não ser em dias assim. Lembro-me quando era criança e adormecia no carro, ao voltar de viagens de campo. Chegávamos na cidade e eu ouvia o carro parando, e eu sabia que havíamos chegado em casa, mas eu me recusava a abrir os olhos. Sabia que estava seguro ali, entre os dois. Meu pai sabia que eu estava acordado, mas forçava a coluna já desgastada e me pegava no colo. Eu continuava de olhos fechados, encolhia-me mais, como se fosse possível apequenar-me até ser um bebê de novo. Deixava-me no sofá ou na cama, e eu sentia a mão e o beijo de boa noite deles, despedindo-se de mim só por aquele dia. O frio nunca chegava perto de nós, só o sono, que voltava segundos depois para recolher o que lhe pertencia.

Olhei para os copos vazios sobre a escrivaninha. Eram nossos. Dois deles, abandonados há dias, mas que trouxeram o Léo aos meus pensamentos e o seu sorriso meio atrapalhado. Talvez ele pudesse afastar a atmosfera gélida. Fecharia todas as janelas, me cobriria com a colcha azul e me envolveria com a perna. Eu me aconchegaria, também, e esconderia o rosto entre o seu peito e a cama. Mas ele não veio, e os copos continuam esquecidos sobre a escrivaninha.

E então voltei os olhos para o computador. Um site pornô qualquer poderia me ajudar a afastar o calor, mesmo que por meia hora, no máximo uma. Um monte de caras de corpos esculturais, e mesmo quando não, sempre endeusados por alguém do outro lado. Senti o resquício de aversão. Não pela masturbação. Nunca por algo assim, sexual. Mas sim a pontada da mesma irritação adolescente que me segue desde sempre, desde que ouvia minha irmã mais velha me dizer o quão feinho eu era, desde que andava com o Victor num bar e todos os olhares o seguiam, desde a semana passada quando mais um dentre mil chegou ao Gui e implorou atenção sua. Cellophane, Mr. Cellophane. Balancei a mão e afastei a ideia da cabeça. O frio ainda é melhor do que a dor sobre o chão molhado do banheiro.

Por fim, a janela me chamou a atenção. Era dali que o frio vinha em rajadas de vento míopes. Levantaria da cadeira de supetão, a vontade vinda do nada, e derrubaria a cadeira escorraçada pelo uso e o cinzeiro improvisado sobre o chão poeirento. Cinzas, bitucas de cigarro e um cigarro ainda meio apagado cairiam no chão. Talvez o tapete queimasse um pouco. Andaria até a janela, resoluto, escalaria seus quase dois metros com a ajuda da cadeira plástica. Meus braços me segurariam na janela e eu gritaria com toda a força que os meus pulmões ainda resguardam. Os poucos transeuntes das 11 da noite me olhariam, entre risos e estranheza. Eu olharia para a lua e para os prédios e saberia, naquele instante, que eu poderia voar, voar para tão longe que jamais me achariam, como eu sempre falava para o Henrique. Um grande sorriso venceria a superfície congelada do meu rosto lagunar e zombaria do frio. E então eu saltaria em direção à torre mais alta, acompanhado pelos gritos surpresos e aterrorizados da multidão vazia.


E teríamos mais um super-herói no céu escuro do Rio de Janeiro.

ENCANTO XI: Nunca quis um príncipe!

A seta certa
Acerta
(Victor Az)

Créditos da Imagem:
Poesia Visual – Victor Az


Eu sou uma bagunça, uma mulher complexa que usa reticências de maneira exagerada porque tem uma tara inexplicável por esse subjetivo sinal gráfico. – Quem tem tara por um sinal gráfico? Eu tenho, acredito no poder de sugestão das reticências, pois cabem tantas coisas nesses três pontos... Também tenho tara por pessoas inteligentes, sendo essa tara na verdade um dos meus fetiches. Dificilmente um homem popularmente gostoso, (nada além de gostoso), irá despertar a minha atenção, porque eu sou tarada por sorrisos fáceis, inteligência, criatividade e bom humor, ou seja, eu sou tarada por você. Mas não posso admitir, ainda não. Por isso, me irrito contigo, mesmo quando você não fala ou faz nada. Estou sempre irritada, confusa e enlouquecida, porque você é o cara que eu quis mesmo sem saber que existia.

Inconscientemente eu pedi aos céus alguém como você. Eu rezei para que quando eu me apaixonasse novamente fosse por uma pessoa que não enxergasse os fatores secundários como primários. Alguém sábio o suficiente para compreender que aparência, idade, religião, e até mesmo os defeitos, são meros detalhes que compõe um todo. E é esse todo que realmente importa. “O importante é a pessoa em si, o resto é detalhe.” Esperava alguém que fosse bom de cama e de cérebro. Alguém que excitasse não apenas o meu corpo, – porque esse é fácil, me trai por qualquer caricia –, mas também a minha inteligência. Esperava alguém que mesmo com as mãos longe do meu corpo fosse capaz de me fazer hiperventilar. E você faz, você me causa um turbilhão de sensações, e todas essas sensações me fazem pensar no quão ferrada eu estou.

Você está me ganhando aos poucos, como alguém que não quer nada... Gostaria de saber o que irá fazer quando finalmente me ter. Porque nós somos díspares, eu ouço funk como fonte de inspiração e você Marisa Monte. Eu sou exagerada, enquanto você é direto e objetivo. Você é calmaria e eu sou um furacão. Eu sou complicada e você tranquilo. Você não ‘cria caso’, não faz drama, e isso é muito bom. Bom demais, mas toda essa atenção me deixa louca. Não estou habituada a ter olhos atentos assim, em mim. A forma como você está me olhando, desnudando Minh’alma, me deixa irritada, pois eu não quero me apaixonar, mesmo assim, eu irei.

Cara, isso nunca acontece comigo, ninguém consegue enxergar além do que eu quero mostrar. Você é o primeiro a enxergar além da idade, das curvas, dos defeitos, da menina. Você é o primeiro a ver a mulher, sem lentes de contato coloridas. Isso é assustador, no entanto, o que realmente me assusta é saber que você não está assustado. Eu nunca quis um príncipe, ainda não quero. Então você surgiu, me fazendo perceber que nenhuma versão de príncipe encantado seria capaz de superar você e todos os seus mistérios, enfim você é a melhor versão de príncipe encantado que alguém poderia querer. Estava ficando cansada de esperar por você, que bom que você apareceu, agora eu sei que a espera valeu a pena.

Inspiração: Victor Az.

FEMINISMO PARA LEIGOS – CLARA AVERBUCK!



É comum escutar: “Não sou feminista, sou feminina”; “Não sou feminista e nem machista”. Mas será que você sabe o que é feminismo? Descubra.

É assustadora a quantidade de gente que não sabe o que é feminismo. Ninguém tem a obrigação de saber, é claro, mas a partir do momento em que você decide opinar sobre um assunto, é de bom tom saber do que se trata.  As pessoas são “contra” o feminismo sem sequer saber o que significa.

É comum escutar:

“Não sou feminista, sou feminina”,

“Não sou feminista e nem machista”,

“Não sou feminista e nem machista, sou humanista”,

“Não sou feminista, acho que todos deveriam ser tratados igualmente e ter os mesmos direitos”.

Bom, vamos lá.

Feminismo não prega ódio, feminismo não prega a dominação das mulheres sobre os homens. Feminismo clama por igualdade, pelo fim da dominação de um gênero sobre outro. Feminismo não é o contrário de machismo. Machismo é um sistema de dominação. Feminismo é uma luta por direitos iguais.

Então se você diz “não sou feminista, acho que todos deveriam ser tratados igualmente e ter os mesmos direitos” você está dizendo, exatamente: “não sou feminista, mas sou feminista”. E se você se diz humanista, bom, acredito que saiba então que o humanismo é uma filosofia moral baseada na razão humana e na ética, que coloca o ser humano acima do sobrenatural, de deuses, de dogmas religiosos, da pseudociência e das superstições e que não tem nada a ver com o assunto.

Existe essa grande falha lógica que é o sujeito achar que você tem que ser contra uma coisa pra ser a favor de outra; neste caso, “contra” os homens para ser “a favor” das mulheres. O feminismo não luta contra os homens, e sim contra o supracitado sistema de dominação, que, veja só, privilegia os homens e foi criado por… homens. Fica clara a diferença entre lutar contra um sistema e lutar contra todo um gênero?

Feminismo não tem nada a ver com deixar de usar batom, salto ou dar de quatro. Ninguém vai confiscar sua carteirinha de feminista se você usar rímel. Mas te abre para a possibilidade de só usar maquiagem quando quiser, não porque tem que obrigatoriamente estar impecável e linda todos os dias a enfeitar o mundo.

Feminismo não tem nada a ver com ser inimiga dos homens. É claro que existem feministas misândricas, mas você não é obrigada a ser uma delas.

Feminismo não tem nada a ver com esconder o corpo; muito pelo contrário, exigimos o direito de andar com a roupa que bem entendermos sem assédio ou constrangimentos. Taí a Marcha das Vadias que não me deixa mentir.

Feminismo não tem nada a ver com não ter filhos, e sim com a escolha de como e quando esses filhos virão, e se virão.

Feminismo não tem nada a ver com não ser feminina. E nem com ser.

Feminismo tem a ver com liberdade, com eu, você, elas e eles podermos todos viver e ser sem ninguém dando pitaco em como devemos nos portar, como devemos nos vestir, o que devemos dizer, do que devemos fazer com nossos corpos.

Outra coisa importante: nem todas as feministas estão de acordo a respeito de todos os tópicos. Cada um constrói seu feminismo. Como disse a Tavi Gevinson, a jovem editora da RookieMag, em uma palestra do TEDxTeen, o feminismo não é um livro de regras, mas uma discussão, uma conversa, um processo. E cada um tem o seu. Feminismo, caros, não é uma seita que reprime e excomunga quem quebra seus preceitos.

Vale sempre lembrar que o mundo machista também oprime os homens com esse negócio de que eles têm que ser os provedores, que eles têm que ser durões, que não podem chorar, que não podem demonstrar nenhuma característica atribuída ao feminino porque isso é considerado uma fraqueza – já que as mulheres são consideradas mais fracas, logo, inferiores. Gay é “xingamento” porque ser gay é ser um homem mulherzinha. Gente, não dá mais isso, 2013 (2015), sabe? Chega de reproduzir conceitos sem sequer parar para pensar neles.

Há um teste simples pra saber se você é uma pessoa que se identifica com o feminismo.

1. Você concorda que uma mulher deve receber o mesmo valor que um homem para realizar o mesmo trabalho?

2. Você concorda que mulheres devem ter direito a votarem e serem votadas?

3. Você concorda que mulheres devem ser as únicas responsáveis pela escolha da profissão, e que essa decisão não pode ser imposta pelo Estado, pela escola nem pela família?

4. Você concorda que mulheres devem receber a mesma educação escolar que os homens?

5. Você concorda que cuidar das crianças seja uma obrigação de ambos os pais?<

6. Você concorda que mulheres devem ter autonomia para gerir seu dinheiro e seus bens?

7. Você concorda que mulheres devem escolher se, e quando, se tornarão mães?

8. Você concorda que uma mulher não pode sofrer violência física ou psicológica por se recusar a fazer sexo ou a obedecer ao pai ou marido?

9. Você concorda que atividades domésticas são de responsabilidade dos moradores da casa, sejam eles homens ou mulheres?

10. você concorda que mulheres não podem ser espancadas ou mortas por não quererem continuar em um relacionamento afetivo?


Respondeu sim pra tudo?

Está confortável na cadeira?

Você é pró-feminismo, ou até… Feminista! Uau!

Você não precisa ser ativista para ser feminista. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Se você acredita na igualdade de direitos entre homens e mulheres, você é feminista.

As pessoas confundem feminismo com um monte de coisas. As pessoas têm medo da palavra FEMINISMO.

Feminismo. Feminista. Feminismo. Feminista. FE-MI-NIS-MO.

Feminismo é sobre liberdade.

E é difícil ser realmente livre neste mundo.


DISPA-ME V: Vermelho Pimenta!


“Algumas mulheres são mais carinhosas, outras são mais fogosas. Infelizmente, nem sempre elas são amorosas. Mesmo assim, eu busco a essência de cada mulher, gosto da delicadeza feminina, o toque, o cheiro... Procuro evidenciar a particularidade de cada mulher, busco enxergar os pequenos detalhes. Dessa maneira eu apreendi que cada mulher é um “tipo” de mulher, cada mulher é dona de uma alma singular. E cada uma dessas almas se encaixam de alguma maneira na minha vida. Enfim, acredito que todas as mulheres possuem um objetivo em comum: cada uma delas querem pelo menos uma vez na vida ser desejadas, amadas de forma plena e verdadeira.” (I.C.F)


Não lembro muito bem os acontecimentos da noite em que eu te conheci. Somente fragmentos ressurgem na minha memória. Tudo aconteceu tão naturalmente, que eu não me preocupei com nada, além de te sentir. Eu estava tomando uma cerveja, quando começou a tocar a música Titanium do David Guetta com a Sia. No mesmo instante, você entrou na pista de dança. Lembro-me do seu vestido preto, curto, colado o suficiente para evidenciar todas as suas belas curvas. [...] O movimento do seu corpo chamou a minha atenção imediatamente, o que me fez pensar: – Garota, espero que você esteja procurando problemas, pois acabará encontrando alguém perigosamente disposta a lhe oferecer. Poderia te observar durante a noite inteira, observar a maneira poderosa que o seu corpo se contorcia, a delicadeza na sua expressão. O seu rebolado dizia que você sabia perfeitamente o que estava fazendo, tinha consciência do efeito que estava causando, não só em mim, mas em todos os olhares atentos direcionados a você. [...]

A minha intenção era simplesmente te observar, rogando para que a sua dança durasse a noite inteira, pois ela transmitia uma mensagem que eu estava precisando. Os seus movimentos exibiam uma liberdade que eu almejava, Se você não estivesse dançando pra mim, daquela forma, a minha noite teria sido mais fácil. Pois quando eu saí de casa não imaginei que iria encontrar alguém, muito menos você. Não planejei fazer nada do que acabei fazendo depois que você se aproximou do balcão e pediu uma dose de tequila. Não resisti, sorrindo timidamente eu balbuciei:
 – Parabéns, ótima dança! Você me encarou de maneira curiosa e com uma expressão interrogativa se aproximou um pouco mais de mim e respondeu:

– Ah... Quanta gentileza sua, muito obrigada!

 – É impressionante como o seu corpo desliza facilmente nesse clube lotado. Desabafei com entusiasmo. Demorou alguns segundos para você processar o meu segundo elogio, por fim, respondeu sorrindo:

 – Obrigada novamente. Posso lhe oferecer uma bebida?

Nesse instante parei de beber a minha cerveja para me concentrar em você. Te observei por um tempo, te avaliei indiscretamente e respondi:

 – Não, não posso aceitar a bebida de alguém que acabou de dá um show, tornando esse ambiente mil vezes melhor, mas adoraria lhe oferecer uma bebida como sinônimo de agradecimento em nome de todos que aqui se encontram. Sua expressão dessa vez foi gentil, ao mesmo tempo misteriosa.

 – Então, o que você irá beber? Perguntei entusiasmada.

– Permanecerei com a tequila, preciso ficar animada. Respondeu pensativa.

 – Dia difícil? Perguntei com uma real preocupação.

– Não, vida difícil! Respondeu chateada.

– Sinto muito. Eu realmente sentia, mas por falta de palavras melhores capazes de demonstrar o meu incômodo falo apenas “sinto muito”.

 – Eu também sinto. Sinto que fui uma idiota, por isso, preciso dançar. Mas, o que você faz aqui?

– Hum... Acho que eu preciso dançar também. Mexer o meu corpo de uma maneira que me faça esquecer os problemas.

 – Quer dançar? O seu convite era sincero.

– Com você? Minha voz soou estrangulada;

 – Sim, comigo! Algum problema? Questionou desafiadora.

 – Não. Nenhum problema. Adoraria dançar com você.

Rapidamente você me arrastou para pista de dança, comecei a me movimentar inseguramente ao som de We Can't Stop da Miley Cyrus, até que as coisas entre nós começaram a ganhar um ritmo diferente. Nossos movimentos se completavam, o balanço do seu corpo se alinhava com o meu, como se estivéssemos ensaiando essa coreografia por um longo tempo. A música estava acabando, mas eu só conseguia pensar em como você estava transformando a minha noite em um inferno. A maneira como me olhava queimava a minha pele, como uma febre de 40 graus. O meu corpo reagia a você, convulsionava de desejo pelo seu corpo.

Paracetamol, Dipirona, Ibuprofeno, Aspirina ou Tylenol não iriam mascarar os sintomas que estavam causando essa febre. Eu precisava de você, não sei se apenas por uma noite ou se para minha vida inteira. Não fiz planos, nem promessas, simplesmente quis você.

Estava perdida na minha complexidade mental quando o DJ Tuca decidiu celebrar os cinco anos da música Give It To Me do Timbaland em parceria com a Nelly Furtado e o Justin Timberlake. Gritei de empolgação, você também estava animada e disse:

 – Eu amo essa música.

– Você é realmente uma caixa de surpresas. Falei com a respiração entrecortada.

 – Não, eu sou a Caixa de Pandora!

Percebi que estávamos compartilhando algo especial, consegui sentir toda aquela química solta no ar. Fechei os meus olhos com intuito de esquecer os últimos acontecimentos. Precisava esquecer a traição do meu ex, a minha raiva, humilhação e infelicidade. Mas fui surpreendida ao sentir a sua quente respiração no meu ouvido, porém foi a sua pergunta que realmente me surpreendeu:

– Quer abrir? Perguntou como se estivesse me oferecendo uma caixa de chocolate.

 – Abri o quê? Precisava ter certeza de qual era o teor da conversa.

 – Pandora. Sua expressão continuava sendo a de alguém que estava oferecendo chocolates.

Te olhei boquiaberta. Pensativa, quem recusa doces? Quem oferece doces? Interrompi meu devaneio e respondi; – Eu sou hétero, não fico com mulheres. A minha resposta não lhe ofendeu, sequer lhe incomodou.

 – Relaxa garota, não estou lhe pedindo em casamento, quero apenas um beijo.
Intencionalmente eu rezava mentalmente: Beije-me, beije-me, beije-me. Por favor, me dê um beijo, pois, nenhum remédio para febre irá diminuir a minha temperatura.

 – Eu não sei o seu nome. Os meus princípios não permitem que eu beije uma pessoa desconhecida. Falei na tentativa de ganhar um tempo para pensar...

– Isa, meu nome é Isa. E estou louca de vontade de você. Posso te beijar agora?

Precisava organizar os meus pensamentos, afinal, como poderia responder a essa pergunta? Sim ou não? Ela deveria me beijar? Eu deveria querer ser beijada por uma mulher? Mal terminei as minhas especulações, quando os meus lábios se abriram proferindo um desajeitado: – Sim!

Não demorou sequer um minuto para que eu sentisse os seus lábios nos meus. Suave, macio, quente, delicado e faminto. Faminto por mais, por mim. Fazia bastante tempo que eu não sentia tamanho desejo direcionado a mim. Eu era a água para a sua sede. Esse pensamento me deixava com água na boca.

O desajeitado beijo foi ganhando proporções desmedidas... Em um piscar de olhos suas mãos estavam por toda parte. Inicialmente pude senti-la na minha nuca, logo depois nos meus seios, na minha bunda. Eu precisava de mais, precisava sentir o seu toque lá, na parte mais intima do meu corpo. Essa necessidade fez com que as nossas roupas se tornassem um empecilho. As pessoas ao nosso redor eram telespectadores indesejáveis do meu desejo, da minha loucura. Logo percebi que eu precisava de privacidade, porque eu queria muito mais que só um beijo. Interrompi abruptamente o beijo e perguntei:

 – Minha casa ou a sua?

 – Sua casa. Não quero que você fuja silenciosamente durante a madrugada.

 – Além de me levar pra cama também está preocupada com a minha permanência nela? Quanto cavalheirismo. Respondi zombeteira.

 – O que eu posso fazer? Sou boa quando o assunto é mulher. Sei como mantê-las ocupadas e satisfeitas. Respondeu com pouca modéstia.

 – Isso é o quê? Alguma espécie de promessa?

 – Não, isso é uma certeza!

 – Ok. Então você irá me fazer implorar?

– Senhorita, antes dessa noite acabar você estará implorando...

Não sei exatamente o que aconteceu depois disso, pois a minha mente estava sobrecarregada. Lembro-me da sua sexy lingerie em um tom “vermelho pimenta”. Lembro-me dos meus gritos, gemidos, e os múltiplos orgasmos. Lembro-me do sol nascendo e aquecendo o meu rosto, do beijo de bom dia, do sexo que fizemos por causa desse beijo... Tomamos café da manhã juntas, assistimos algum programa bobo sobre culinária que estava passando na televisão, mas não prestei muita atenção, pois estava assistindo você... O seu sorriso discreto, a forma como você interagia com o chef de cozinha. Como discordava dos ingredientes, da receita em si. Você despertou em mim uma tara por você, pela sua paixão. Por essa paixão que você transmite ao me olhar, ou quando você descreve algo que realmente lhe empolga.

Inspiração: I.C.F

Í.N.T.I.M.O.S.: Por Acaso – A História de Um Amor Encontrado!


Foi por acaso... Eu estava ali sozinha, sentada à janela do trem quase vazio, totalmente concentrada na leitura de um livro... E então você entrou... Parecia cansado; tirou a mochila do ombro, e sentou no primeiro lugar vazio que encontrou – assim, por acaso –, de frente para mim. Acho que eu mal tinha notado sua presença, até ouvir você suspirar, olhando distraidamente para a capa do meu livro, e dizer, meio sonolento, que o casal ficaria junto no final. Eu ri... Apesar de o título ser sugestivo, eu não estava lendo um romance.

Mas então, por acaso também, quando eu estava prestes a dizer alguma coisa sobre não ser educado revelar o final a uma pessoa que ainda está lendo o livro, o trem deu um solavanco, que me projetou para frente, e fez meu livro cair no seu colo. Você o confiscou, sorrindo, e só me devolveu quando chegamos à minha parada, mas não sem antes colocar dentro dele um cartão com seu telefone.

Eu nunca pretendi ligar, afinal, você era um cara estranho, que praticamente sequestrou meu livro no trem, insistindo em conversar, e ainda fingiu conhecer o final de uma história que estou certa de que você nunca tinha ouvido falar...

Mas então, por acaso, outra vez, nós nos reencontramos, agora num vagão lotado, e enquanto a multidão empurrava o meu corpo contra o seu, você me perguntava se faltava muito para eu terminar o livro. Achei que você era maluco, e não sei por que razão eu continuava dando atenção ao que você dizia, mas o seu jeito doce e sincero de me olhar, lentamente foi colocando abaixo todas as minhas defesas.

Assim, por acaso, lá estava eu, aceitando tomar um café com você; e depois um filme; e depois um jantar; e quando menos esperei, o café com você, se tornou café da manhã; a janela por onde eu olhava era a do nosso quarto; e não havia mais lugar vazio ao meu lado no trem. Porque eu descobri no seu jeito completamente atrapalhado de se aproximar, as primeiras frases do enredo de um romance, que só o acaso, mesmo, poderia criar.

Porque, quem mais, senão o acaso, poderia colocar no meu caminho (duas vezes!) um cara, que à primeira vista, nem fazia o meu tipo, mas que, por acaso, era exatamente o que eu precisava?

E então, de repente, da garota que estava lendo sozinha no vagão de trem, eu me tornei a metade de nós; parte de uma história que estava sendo escrita pelo acaso. E o acaso, talvez, seja na verdade um pseudônimo que o destino usa quando quer permanecer anônimo, e realizar o inimaginável.

E assim, um dia, por acaso, eu percebi que você tinha razão desde o início: eu não precisaria ler o livro até o final, pois eu tinha certeza de que o casal nunca mais iria se separar.


Sobre a autora: Talita Vasconcelos é uma escritora nacional. Paulistana, 20 e poucos anos, apaixonada por livros, cinema, música boa, e escrever. Autora de três livros publicados em e-book: a antologia “A Morte Não é o Fim”, e o romance “Alma de Rosas”, e um romance sobrenatural, "As Noivas de Robert Griplen".



OnBody: Projeto da fotógrafa Natacha Mantovani!


Natacha Mantovani é uma fotógrafa brasileira de 24 anos. Aos 15 já buscava algo onde pudesse transmitir como se sentia, mesmo sendo difícil compreender tais sentimentos. Apesar das dúvidas, foi através da arte que descobriu o seu amor pela fotografia. Um sonho que se tornou sua profissão e maior paixão.

Dona de um talento encantador, além de um enorme carisma, atualmente a fotógrafa está morando em Londres, e garante que devido a sua identificação com a cultura local o processo de adaptação foi bastante tranquilo, mesmo assim, o que ameniza a saudade de casa (Brasil) é saber que o seu tempo lá será por apenas uma temporada, por isso, ela tem aproveitado o máximo possível, tornando a saudade um fator secundário não muito profundo, guardando consigo apenas a saborosa sensação de 'volto logo'.



O projeto em questão: OnBody, (sem tradução para o português), traz uma mistura de arte contemporânea, dança e amor. Nas imagens o casal inglês, Dominique e David, transmite uma mensagem de autenticidade que há muito tempo a Natacha queria expor. Exibir algo assim, com tamanha intensidade, algo que reflete o amor, todas as formas de amor era um dos seus objetivos. Segundo ela, o amor é precursor do OnBody, sendo também a sua principal fonte de inspiração.



O OnBody representa toda e qualquer forma de amor, por isso ela adoraria fotografar casais homossexuais e revela que caso surja à oportunidade, irá abraçar com muito carinho. Também possui interesse em exibir o amor através de casais negros, o que em minha opinião será algo inovador, e como ela mesma afirma: “amor é amor independente de qualquer outra coisa”.




Acredito que propagar essa ideia de que o amor não é uma questão de Gênero/Raça é algo muito importante, principalmente em um país como o nosso, repleto de preconceito e intolerância. Parabéns, Natacha! Estou torcendo muito pelo (On) body. Todo sucesso pra você, muito obrigada pela entrevista e pelo carinho.

Maiores Informações: Natacha Mantovani Photography, (On)body.