Estava organizando os meus armários e
gavetas, me desfazendo de coisas velhas que já não me servem, e me alegrando
por encontrar aquele suéter de linho branco há muito perdido, e um trocado
completamente esquecido no bolso de uma calça jeans...
É engraçado as coisas de que nos
esquecemos com o tempo. Eu abro esse armário todos os dias, mas não consigo me
lembrar quando foi a última vez que eu realmente reparei naquele gato de
pelúcia que você me deu, embora ele esteja sempre ali, apoiado na prateleira,
sombreado por um dos meus casacos de inverno. Mas hoje, por alguma razão eu
reparei nele, ao tocar o pelo suave e macio. Lembro exatamente do dia em que
você apareceu com ele, com um laço vermelho no pescoço, e disse que nosso amor
iria durar até o dia em que esse gato de pelúcia morresse. Esse foi seu jeito
bobo e extremamente adorável de me dizer que nosso amor iria durar para sempre.
Por que será que não deu certo? Às vezes
eu me pergunto isso. Se eu não fosse tão teimosa... Se você não fosse tão
certinho... Se tivéssemos nos esforçado mais... Não há nada errado em lutar com
uma peça que não se encaixa para completar nosso quebra-cabeça. Talvez a beleza esteja exatamente nisso: em
juntar nossas diferenças, e ir ajustando aos poucos, até colocar tudo em ordem,
num encaixe perfeito.
Infelizmente, as coisas não aconteceram
como a gente planejou. Nós demos importância demais a algumas manias bobas; eu ficava
irritada com os seus planos que insistiam em não se ajustar aos meus; e em
algum momento você também se cansou da minha teimosia. Só o que restou foi o
gato, com o pelo branco e macio guardado no meu armário, protegido do desgaste
do tempo, com suas sete vidas intactas; aquelas sete vidas imortais que
deveriam durar o tempo do nosso amor.
“E
agora?” A voz de Caetano vem do rádio, ecoando nos versos
da canção as palavras que meu tolo coração decidiu ressuscitar com as nossas
lembranças. “Que faço eu da vida sem
você?” Porque antes de te conhecer, eu só sabia do amor o que diziam os
poetas. E agora não sei o que fazer com esse espaço vazio que você deixou no
meu peito.
É tolice querer voltar atrás, e corrigir
aqueles pequenos erros? Mandar para o inferno aquelas diferenças banais que nos
fizeram abrir mão de tudo o que tínhamos? Será que você, alguma vez, também já
se perguntou isso?
Sei lá... Talvez eu só esteja procurando
um pretexto para chorar. E um lembrete de que o amor foi maior que os nossos
defeitos bobos. Mas, infelizmente, acabou.
Talvez um dia eu consiga me desfazer
desses arrependimentos, como das roupas velhas que não me cabem mais. Mas esse
dia não é hoje. Hoje eu vou terminar esta carta, e guardá-la no armário, junto
com as nossas lembranças. Afinal, o gato ainda não morreu...
Sobre a autora: Talita Vasconcelos é uma
escritora nacional. Paulistana, 20 e poucos anos, apaixonada por livros,
cinema, música boa, e escrever. Autora de três livros publicados em e-book: a
antologia “A Morte Não é o Fim”, e o romance “Alma de Rosas”, e um romance
sobrenatural, "As Noivas de Robert Griplen".
Leia também: Lágrimas de Sangue.
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