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Entre Nós: Eu sou essa garota?


Eu não preciso de mais uma história para dormir, eu não aguento mais um conto de fadas cheio de dificuldades, mas com aquele final feliz que todo mundo já conhece. Eu preciso de uma nova história, de um novo inicio, estou cansada de repetir, repetir, repetir e seguir repetindo os mesmo scripts de sempre, alguém, por favor, poderia mudar esse roteiro? Não aguento mais esses personagens, não aguento mais essa história contada e recontada geração por geração. Desculpa, mas eu não entendo porque a mocinha tem que se dar bem no final, mas, só no final. Afinal, quem é tão idiota para sofrer tanto sem fazer nada, ou quem é tão benevolente para merecer um final feliz incontestavelmente?


Eu odeio a mocinha, a garota meiga e injustiçada que precisa de um príncipe encantado para derrotar a bruxa má e salvar o seu “felizes para sempre”, qual o objetivo de ser feliz para sempre se  você não souber valorizar essa felicidade? Eu acredito na dor, acho que ela é real, é algo que eu conheço e já estou familiarizada. É algo que eu consigo suportar, no entanto, eu aproveito os meus momentos de felicidades, pois, independente da dor, eu consigo ser feliz, eu me agarro a esse sentimento de bem estar, de estar bem, mesmo que por pouco tempo, porém, eu sei diferenciar felicidade e sofrimento.

O meu sorriso esconde tanta coisa, meu olhar disfarça tão bem que até eu às vezes me engano com as minhas várias facetas. Sabe quando você repete inúmeras vezes uma frase que acaba interiorizando? Acho que eu sempre fiz isso inconscientemente, no entanto, agora que eu sei, é assustador me olhar no espelho e ver o quanto eu atuo bem.  Eu achei que esse tempo todo você estava encenando um papel escrito e ensaiado para mim desajustar, para mim desequilibrar emocionalmente. Porém, durante todo esse tempo era eu quem estava atuando, fazendo caras e bocas e pronunciando palavras vazias, que eu jurava ser declarações de amor. Porém, nunca foram declarações, ou amor, eu apenas interpretei de forma clara e objetiva o personagem que você moldou.

Aquela garota, frágil, doce, meiga e com o coração em pedaços, nunca fui eu. Eu não sou assim, eu não sou frágil, não sou doce e provavelmente eu não tenho um coração. O problema são os papéis que a sociedade nos impõem, que as nossas famílias e amigos escrevem e nos obrigam a interiorizar. Mas, eu cancei, e eu não me importo, com nada, com ninguém. E você deve estar se questionando se eu realmente fiz isso com você. Eu Fiz e faria tudo exatamente da mesma maneira, eu não trocaria uma vírgula.

Perdi tanto tempo procurando os detalhes que eu deixei passar despercebido, os ditos “sinais” que as pessoas costumam emanar quando não estão satisfeitas. Mas, eu não captei nenhum “sinal” seu, e eu comecei a achar que provavelmente o meu radar não estava funcionando direito, ou talvez, o sinal do seu wi-fi estava criptografado, ou a sua senha não era a data do seu nascimento. De qualquer forma, desculpa, mas, eu nem tentei quebrar o seu código, ou sei lá, interceptar a sua mensagem. E mesmo se eu tivesse tentado, eu não conseguiria, pois, eu apenas estava sendo aquela garota que você queria que eu fosse.

E então, eu resolvi parar de atuar, comecei a mudar as minhas falas, e dei vida e perspectiva a minha personagem previsível e engessada. A parte mais irônica e ao mesmo tempo trágica dessa história toda é que eu passei a minha vida inteira com medo de perder, sabe? Eu sempre fui péssima com despedidas. E eu nunca soube como utilizar a palavra adeus, quero dizer – afinal ela não vem com nenhum manual de instrução, e eu nunca soube o momento certo que eu deveria a utilizar, nunca soube em qual ocasião ela se encaixaria perfeitamente, e então eu nunca a usei.

Eu sempre tive tanto medo de perder, que eu acabei temendo partir, não parecia justo, sabe? Dizer adeus sempre pareceu tão errado, tão mesquinho. No entanto, quando eu realmente perdi alguém que realmente era importante, isso foi devastador, me destruiu, passei tanto tempo temendo perder que nunca imaginei o que fazer com o sentimento da perda. E novamente eu precisei de um manual de instrução – o que fazer quando você perde alguém que você ama? O que fazer quando a morte toma algo de você? E você deve estar pensando que com o passar do tempo a pessoa supera, eu não superei, na verdade, acho que eu pirei, e eu sei que você lembra dessa minha fase: eu não tenho nenhum motivos para sorrir novamente!  

Enfim, eu não soube lidar com isso – com esse tipo de dor, com essa dimensão de sofrimento e então alguma coisa se quebrou dentro de mim, na verdade eu quebrei inteiramente, e nesse momento, eu percebi o que é estar em pedaços, nesse instante, eu descobrir qual era a sensação de juntar todos os meus cacos, e apesar da tentativa ingênua de tentar montar o quebra-cabeças que eu me tornei, eu permaneci quebrada, em pedaços, sinceramente, ainda continuo assim, provavelmente eu perdi alguma peça e acho que esse é um dano irreversível.

Com o passar do tempo, o meu dano evoluiu e com isso eu desenvolvi alguma espécie de bloqueio sentimental, sem dor, sem perda, sem emoção. Afinal, eu não posso sofrer com a perda de algo que eu não possuo. Confesso que eu nunca fui uma garota de sair por ai dizendo  "Eu te amo", acho que essa é a minha frase proibida, essa é aquela frase que torna uma conversa desconfortável, que faz a boca ficar seca e a garganta travada. Mas, eu não precisava dizer, nunca precisei, pois, eu sempre poderia escrever, pois, escrever sempre foi minha válvula de escape, quando eu escrevo é como se eu estivesse me libertando. Toda a minha angústia, meu medo, minha raiva, tudo é despejado palavras a fora, e através das minhas inúmeras palavras aparentemente desordenadas e em algumas situações horrivelmente melosas, que constituem um texto em sua maioria dramático, eu despia minh'alma. Afinal, qual a melhor maneira de se libertar do que o drama? Enfim, o drama é a camuflagem, é a possibilidade de guardar nas entrelinhas todos os Foda-se que eu tento reprimir diariamente.

Ás vezes me pego pensando o quanto as pessoas se enganam comigo... Afinal, normalmente sou uma pessoa tão meiga, gentil e educada. Sou aquela garota que nunca diz não, pois, eu tenho um sério problema em dizer NÃO, e é por isso que estou sempre tentando ajudar alguém, o que deveria ser algo bom, mas nem sempre é. Pois, ninguém é bom o tempo inteiro, ninguém é perfeito, ou seja, eu não sou essa pessoa tão legal como andam dizendo e vendo por aí. Eu não sou essa garota!


Na verdade, eu também sei ser má, ás vezes eu sou grossa e sem nenhuma educação. E eu não me culpo, eu sei quem eu sou, são vocês que não me conhecem, são vocês que estão escrevendo os papéis e eu novamente, apenas estou interpretando os personagens que vocês querem que eu seja. Portanto, parem de criar perfis e scripts sobre quem eu sou, afinal, eu posso agir de maneira ingênua, mesmo sendo malévola, eu posso agir gentilmente, apesar de ser uma pessoa extremamente explosiva, enfim, eu posso ser quem eu quiser, ou quem você quiser que eu seja, no entanto, lembrem-se que eu posso parecer uma garota boba, mas, eu não sou uma Idiota. Analise, quem esta manipulando quem? Pois, a minha intuição diz que essa sua fé esta sendo depositada na pessoa errada. Acredite, eu não sou uma pessoa boa, apenas tento controlar o meu lado ruim, pois, ser ruim ainda é o que eu faço melhor!


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