Estou em pé
parada diante da minha cama vestida apenas com a minha toalha amarelo ouro. Não
consigo escolher qual roupa usar essa noite. Coloco o vestido grafite, me
admiro e desisto, ele é muito antissocial, não combina com as minhas
expectativas para hoje. Opto pelo vestido preto básico, discreto, mas é o
vestido na cor vinho que preenche todos os requisitos necessários. O decote V
possui uma profundidade generosa, o que favorece além dos meus seios, também
todas as minhas curvas. O meu reflexo no espelho torna a frase vestida para
matar totalmente compreensível. Adiciono o meu sapato pump preto e dourado elevando
essa produção para outra dimensão. Definitivamente, saltos deixam qualquer look
casual inquestionavelmente sexy. Será que é realmente impossível acreditar que
uma mulher seja capaz de si produzir para si mesma? Porque eu planejei cada mínimo
detalhe, a escolha do meu batom ametista, – que atribuiu uma sensualidade na
medida certa –, foi proposital, eu escolhi pensando em mim, no prazer que iria
sentir ao ver o meu reflexo no espelho.
Entro no bar, procuro uma mesa com uma visão
privilegiada, decido pela mesa treze, peço
ao bartender a minha costumeira dose de Vodka Skyy. Começo a bebê-la
tranquilamente, pequenos goles, sinto o calor enorme se apossar da minha
garganta, saboreio o meu interior queimar lentamente, gosto dessa sensação
de calor. Observo atentamente as pessoas ao meu redor, casais cheios de
sorrisos, mulheres cercadas pelos seus grupos, não vejo nenhuma outra mulher
sentada sozinha acompanhada somente pelo seu copo de bebida. Sei o quanto isso pode
parecer solitário, triste e até mesmo uma atitude desesperada, uma mulher
sozinha em um bar? Sim, mas diferente do que sugere a Helena Paige, às vezes quando uma garota entra em um bar ela
quer apenas beber, sem ninguém para atrapalhar os seus devaneios. Está
produzida e sozinha não é um código para: estou
disponível, aproxime-se! Não significa querer uma aventura, ou, sexo selvagem
com um desconhecido.
Peço a minha segunda dose de Skyy, mas para minha
total surpresa, além da minha Vodka o bartender traz também uma dose de Uísque.
Olho intrigada para a bebida durante poucos segundos e a recuso quando percebo
o convite implícito, as segundas intenções contidas no sorriso cheio de si do
Srº Máximo, – dei esse apelido super despretensioso ao cara da mesa ao lado –. Não
o notei antes da oferta silenciosa, será que ele estava sentado durante todo
esse tempo na mesa dez e eu não o vi? O bartender parece curioso, mas decide
não falar nada, apenas recolhe a bebida e some novamente. Na mesa sete parece que algo realmente importante esta acontecendo, ou
talvez seja o álcool saindo para dançar, consigo ouvir os gritos e as gargalhadas
de todas as mulheres daquele grupo.
A visão dos eventos ao meu redor me manteve distraída por
um longo tempo, pois mais uma vez sinto o meu copo esvaziar, olho decepcionada
para o meu copo vazio e decido tomar só mais uma dose, afinal hoje eu estou
saindo comigo mesma, e preciso comemorar essa belíssima companhia, assim como,
essa maravilhosa conquista de liberdade. Já estava me preparando para pedir
mais uma dose, quando subitamente aquela dose de Uísque ressurge. Recuso-a novamente,
mas dessa vez não tento conter a irritação presente na minha voz, o garçom
parece querer se desculpar pelo incômodo, provavelmente ele percebeu o quanto o
cara insistente esta arruinando o clima da minha noite. Finalmente ele pega a
bebida, e quando ela esta sendo retirada da mesa, o Srº Máximo a retira das
mãos do garçom e a coloca novamente na minha frente, e sem ser convidado ele
resolve sentar ao meu lado. Aparentemente
convencer o macho alfa da mesa ao lado, atualmente ao meu lado, de que hoje ele
não irá tirar a minha calcinha será uma tarefa mais difícil do que eu esperava.
Sinto-me violada, porque caras idiotas não aceitam ser rejeitados? Será que a
minha recusa foi ambígua? Perco-me nos meus próprios pensamentos...
Vários minutos depois eu retorno das minhas
inquietações, e percebo que ele, o Srº Máximo, esta falando algo sobre como
seria fantástico acompanhá-lo para um local mais reservado, tento entender como
foi que essa não conversa tomou esse rumo, afinal, ele esta falando sozinho,
desde que invadiu a minha mesa eu não abri a minha boca, gostaria de uma
garrafa de vodka, porque uma dose dificilmente resolveria a minha frustração.
Penso em dizer-lhe aquela velha e eficaz desculpa: Eu tenho namorado. Mas creio
que seria o mesmo que dizer: Não se aproxime, eu já tenho um dono, mas se não
tivesse com certeza transaria com você. Nesse ponto do diálogo, eu já estou
exasperada... Respiro inúmeras vezes, quando sem perceber acabo falando com
ênfase desnecessária: – Eu não irei
transar com você! Porque quando eu digo não, eu quero dizer Não. Simplesmente
discordo dessa história de que mulher quando diz não, na verdade quer dizer sim,
isso é um mito, um péssimo costume transmitido geração após geração. Eu sou
mulher e quando eu digo não, quero dizer exatamente isso. Não estou fazendo
charme ou iniciando jogos, não, eu estou lhe dispensando, retire-se, por favor!
Juro que por um breve momento pensei que ele iria me
agredir, a reação dele ao seu ego ferido não foi nada positiva. Primeiro ele
insinuou que eu era louca por dispensar um cara como ele – como se ele fosse um
cara indispensável –, logo depois disse com total convicção que eu estava bêbada.
Mas eu não estava louca, muito menos bêbeda, possivelmente grogue, eu apenas
não estava a fim dele naquele momento. Mesmo assim, eu deveria aceitar de bom
grado as suas investidas porque é normal os homens se aproximam das mulheres
sempre com segundas intenções? Não, não é normal. é inconveniente e
constrangedor, além do mais eu tenho todo direito de dizer não, para quem eu
quiser e quando eu quiser, é dever do outro respeitar o meu não, mesmo se ficar
magoado. Afinal, rejeição não é o fim do mundo, todo mundo precisa aprender a
lidar com ela.
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