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DISPA-ME II: Caixa de Pandora!


Acordei novamente com aquela sensação de que estou descumprindo promessas, sabe? Abri os olhos e enxerguei o quão frustrante é esconder no passado as péssimas escolhas que eu fiz. É realmente uma droga tentar levantar e sair por aí vestida com essa armadura que além de me proteger, também me prende, me isola de todas as possibilidades. Construí uma defesa impenetrável, uma caixa de pandora repleta de coisas que eu nunca considerei: desejos inconfessáveis e perguntas que eu nunca ousei verbalizar. Mas, ultimamente estou pensativa, desconfiada, procurando respostas para essas perguntas, procurando coragem para analisar os itens escondidos nessa caixa, pois em alguns momentos, – como agora –, tudo que eu quero é empurrar tudo de volta para dentro desse compartimento, e então fingir que nada aconteceu. Conviver com todos esses sentimentos supostamente errados, esta destruindo a minha paz. Minha mente esta uma confusão, ás vezes acredito que a melhor decisão seria deixar você partir, até construo um discurso no meu cérebro justificando a minha decisão, e quando eu começo a dizer pra você ir, o meu corpo me trai e suplica para você ficar.


 – Como uma mulher pragmática decide experimentar algo que não envolve fazer a coisa certa? Não sei, ainda estou tentando compreender como isso aconteceu comigo, sei apenas que jogar a cautela pela janela foi uma decisão incrivelmente sábia. Porque sem ela acabei descobrindo que me apeguei a falsas verdades, descobri também que entre o certo e o errado existe uma imensidão de possibilidades. Compreendi que todo esse conjunto de regras, formalidades e etiquetas da boa sociedade não passam de formas de reprimir a liberdade alheia. Aprendi no decorrer desses anos que relacionamentos casuais eram banais, e apenas sexo era uma forma de perder tempo. Acreditei copiosamente que diversão era sinônimo de pecado. Critiquei o poliamor e zombei a poligamia, também propaguei a ideia de que os relacionamentos não convencionais eram menos verdadeiros, ou seja, apenas um desperdício de tempo e afeto, – como se não houvesse verdade em aproveitar cada momento da companhia de uma pessoa –, e é por isso, que você não deveria atrair a minha atenção, ou sequer despertar o meu interesse.

Acreditei em tudo isso até o dia em que eu conheci você, até o momento em que te abracei e sentir o seu perfume se misturando à minha pele, – você cheirava a sexo e a algo mais, o que só depois descobri ser Le Male Terrible do Jean Paul Gaultier –. Naquele momento eu soube que você era o cara combinaria perfeitamente comigo, porque você é um desafio, além de ser confiante, também é inteligente e engraçado. Definitivamente você faz o meu tipo, supondo que eu tenha um. Depois daquele dia em que eu te vi, passei algumas madrugadas acordada imaginando como seria sentir você, imaginei o seu sabor inúmeras vezes, e quando finalmente eu me permitir, – sem culpa –, saborear você, a sua boca não me decepcionou, macia e fria, ela se aproximou do meu pescoço me provocando sensações nunca antes sentidas, e ali eu tive certeza que não iria existir nenhum desperdício de tempo entre nós, mas sim escassez. O seu toque fez com que eu enxergasse que a vida é feita pelos momentos vividos, e que esse papo de perder tempo em relacionamento casual é mentira, pois na nossa relação o prazer mútuo é um fator primordial, tornando cada milésimo de segundo essencial.

Essa nossa relação, o que nós dois temos, me deixa muitíssimo saciada, sem nenhum motivo para lamurias, ou arrependimentos. Por isso, eu me isento da obrigação de reprimir como eu me sinto em relação a você, a nós. Não quero reprimir o quão magnifico é estar dentro dos seus braços. Porque você me ensinou que entre quatro paredes não existe espaço para vergonha, timidez ou incerteza. Com você é luz acesa e satisfação garantida. Basta eu ameaçar abrir zíper do seu jeans que imediatamente você já esta me ajudando a tirar o sutiã. E eu só preciso desse seu olhar de quem estar com fome para sentir um incêndio ganhando vida dentro de mim. Não preciso de mais nada, nenhuma palavra, para que segundos depois eu esteja implorando a sua atenção. Sinto-me perdida nesse abismo que é você. Porque as batidas do seu coração misturadas com a minha respiração ofegante se tornaram o meu som favorito.

Créditos da Imagem: Natacha Mantovani.


1 comentários:

  1. Delirantemente perfeito. Em vários momentos do texto eu viagem e voltei no tempo e no espaço. Parabéns, continue a escrever.

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