“Dar não é fazer amor. Dar é
dar. Fazer amor é lindo, é sublime, é encantador, é
esplêndido. Mas dar é bom pra cacete. Dar é aquela coisa que
alguém te puxa os cabelos da nuca. Te chama de nomes que eu não escreveria. Não
te vira com delicadeza. Não sente vergonha de ritmos animais. Dar é bom. Melhor
do que dar, só dar por dar. Dar sem querer casar. Sem querer apresentar pra
mãe. Sem querer dar o primeiro abraço no Ano Novo. Dar porque o cara te
esquenta a coluna vertebral. Te amolece o gingado. Te molha o instinto. Dar
porque a vida é estressante e dar relaxa. Dar porque se você não der para ele hoje,
vai dar amanhã, ou depois de amanhã. Tem pessoas que você vai acabar dando, não
tem jeito. Dar sem esperar ouvir promessas, sem esperar ouvir carinhos, sem
esperar ouvir futuro. Dar é bom, na hora. Durante um mês. Para os mais
desavisados, talvez anos. Mas dar é dar demais e ficar vazio. Dar
é não ganhar. É não ganhar um eu te amo baixinho perdido no meio do
escuro. É não ganhar uma mão no ombro quando o caos da cidade parece querer te
abduzir. É não ter alguém pra querer casar, para apresentar pra mãe, pra dar o
primeiro abraço de Ano Novo e pra falar: “Que que cê acha amor?”. É não
ter companhia garantida para viajar. É não ter para quem ligar quando recebe
uma boa notícia. Dar é não querer dormir encaixadinho. É não ter alguém para
ouvir seus dengos. Mas dar é inevitável, dê mesmo, dê sempre, dê
muito. Mas dê mais ainda, muito mais do que qualquer coisa, uma chance
ao amor. Esse sim é o maior tesão. Esse sim relaxa, cura o mau humor,
ameniza todas as crises e faz você flutuar. Experimente ser amado.”
Tati Bernardi
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